Desenvolvimento de produto digital para valor comercial
O desenvolvimento de um produto digital é uma tarefa desafiadora, e muitas vezes as empresas enfrentam dificuldades em ter algo com valor comercial real. Por isso, imagine o cenário em que seus times de desenvolvimento finalmente concluem o trabalho em um novo produto digital e estão prontos para lançá-lo. Após meses de desenvolvimento, decidem lançar todos os recursos de uma só vez. Entretanto, nesse período, as necessidades dos clientes mudaram. Um concorrente lançou uma versão superior do software. Ou a equipe de gestão pode até mesmo ter esquecido os motivos pelos quais o produto é importante para a empresa.
Essa abordagem não representa o processo ideal de desenvolvimento de produto digital. Ao esperar tanto tempo para o lançamento, as equipes perdem a capacidade de responder dinamicamente às mudanças no mercado ou às necessidades dos clientes. Infelizmente, esse cenário é comum, mesmo entre equipes que se consideram ágeis. Porém acabam presas em um ciclo de práticas “falsamente ágeis”, onde o processo ainda se assemelha a um modelo em cascata, apenas com outro nome.
Prashant Kelker, diretor de estratégia da ISG, destaca que “desenvolver software usando metodologias ágeis não funciona realmente se for lançado apenas duas vezes por ano”. E que “a verdadeira agilidade só é alcançada por meio do feedback frequente do mercado, tanto interno quanto externo”, ressalta.
Portanto, neste artigo, abordaremos a importância de evitar as armadilhas do “falso ágil”. Além disso, apresentaremos um processo de desenvolvimento que permitirá que os times entreguem softwares inovadores e de alto impacto, atendendo às necessidades dos usuários e respondendo dinamicamente às mudanças do mercado.
Previsão do produto
Nenhum aplicativo deve existir apenas por si só. Em vez disso, é essencial estabelecer uma visão clara para o produto. Ele deve estar alinhado aos objetivos de negócios da empresa, atender às necessidades dos clientes e acompanhar as demandas do setor em que atua.
Além disso, é nessa fase que você traça e priorizar os objetivos de curto e longo prazo da empresa e identificar o tipo de software de alto impacto necessário para alcançar esses benchmarks.
Na Programmers, utilizamos nossa metodologia, Programmers Agile Experience, para guiar o desenvolvimento de produtos digitais. Esse processo tem início com o estágio de previsão do produto, no qual nos reunimos com as equipes para identificar as necessidades mais críticas da organização e definir o software adequado para atendê-las. Nesse estágio, também começamos a criar um backlog, uma lista ordenada de funcionalidades e recursos que o produto digital deve possuir.
Exemplo prático
Um exemplo prático desse estágio de previsão do produto foi quando trabalhamos com um cliente do setor de logística. Eles tinham uma visibilidade limitada sobre o status e as atividades de suas frotas, com apenas 30% de conhecimento sobre a localização e o desempenho dos motoristas. Além disso, essa falta de informações comprometia sua capacidade de garantir entregas pontuais e de monitorar a segurança dos motoristas.
Durante a fase de previsão do produto, identificamos que o cliente necessitava de um sistema de gerenciamento de frota com recursos específicos, tais como visibilidade dos horários estimados de chegada dos motoristas, informações sobre pausas programadas e monitoramento dos comportamentos na direção. A implementação desses recursos permitiu ao cliente atender melhor seus próprios clientes, além de promover a segurança dos motoristas.
Essa fase focada na previsão do produto,pode garantir as empresas que os recursos desenvolvidos atendam diretamente às suas necessidades e proporcionem o valor comercial desejado. Além disso, a utilização de metodologias ágeis possibilita a adaptação contínua do produto ao longo do processo de desenvolvimento, garantindo que ele permaneça relevante e eficiente diante das mudanças do mercado e das demandas dos clientes.
Roteiro do produto
Após definir a visão e os objetivos do produto na etapa de previsão, a próxima fase do processo de desenvolvimento de produto digital é criar um roteiro detalhado para o produto. Esse roteiro estabelece os recursos mais importantes do aplicativo e determina o cronograma para o lançamento de cada um deles.
Continuando com o exemplo do cliente do setor de logística, identificamos que o recurso de maior importância em seu sistema de gerenciamento de frota era a obtenção de uma visão abrangente dos tempos de carga e descarga.
Esse recurso permitiria que a empresa acompanhasse quais motoristas estavam cumprindo os prazos de entrega e quais estavam atrasando. Com essas informações em mãos, os gerentes de frota poderiam interagir de forma dinâmica com os clientes, fornecendo atualizações precisas sobre o tempo estimado de chegada das remessas e eventuais atrasos.
Ao incluir esse recurso prioritário no roteiro do produto, a equipe de desenvolvimento poderia trabalhar de forma mais eficiente, concentrando seus esforços no desenvolvimento e entrega desse recurso específico. Além disso, a empresa poderia comunicar de maneira clara aos stakeholders e aos clientes quando poderiam esperar a disponibilidade dessa funcionalidade.
É importante ressaltar que o roteiro do produto não consiste em uma lista estática, mas sim em uma ferramenta flexível que a equipe pode adaptar conforme novas informações surgem e novas necessidades são identificadas. À medida que o processo de desenvolvimento avança e a equipe coleta o feedback do mercado, ela pode reavaliar as prioridades e fazer ajustes no roteiro para garantir que ele permaneça alinhado com as necessidades do negócio e dos clientes.
Criar e implantar o produto mínimo viável (MVP)
Com os recursos mais importantes definidos no roteiro do produto, é hora de criar o Produto Mínimo Viável (MVP). Essa é uma versão enxuta do novo software, que contém apenas alguns recursos-chave, ou até mesmo apenas um recurso, para permitir o lançamento mais rápido possível.
A criação do MVP tem múltiplos objetivos: primeiro, permite que os clientes e partes interessadas internas utilizem novos recursos o mais cedo possível. Além disso, serve como uma oportunidade para testar se o aplicativo atende verdadeiramente às necessidades dos usuários. Se necessário, as equipes podem realizar ajustes e melhorias rapidamente.
Esse processo dinâmico de teste ajuda a evitar uma das armadilhas comuns que muitas organizações enfrentam. De acordo com uma pesquisa recente, 35% das startups fracassadas mencionaram que sua queda ocorreu porque criaram produtos com pouca ou nenhuma demanda no mercado.
Exemplo prático
Voltando ao exemplo do cliente do setor de logística, o MVP que criamos assemelhava-se a um quadro de embarque de um aeroporto. Ele permitia que os gerentes de frota acompanhassem os tempos de carga e descarga, bem como o tempo estimado de chegada dos motoristas ao próximo destino. Conforme prosseguimos no desenvolvimento do produto digital completo, esse painel inicial evoluiu fornecendo 100% de visibilidade das frotas.
Embora o MVP seja uma versão enxuta, ainda é importante estabelecer a interface do usuário (UI) e a experiência do usuário (UX) do sistema. Essa estrutura de design pode ser escalada à medida que novos recursos são adicionados, economizando tempo significativo no processo de desenvolvimento.
Por exemplo, recentemente, nossos especialistas criaram uma estrutura de UX escalável para um cliente SaaS de marketing durante a fase MVP. À medida que adicionam novos recursos após o MVP, eles podem utilizar esses “blocos de construção UX” para projetar rapidamente novas funcionalidades, garantindo a consistência com o sistema principal. Como um de nossos designers de UX mencionou, tudo o que o cliente precisa fazer agora é “seguir a estrada de tijolos amarelos”.
O MVP é uma etapa crucial no desenvolvimento do produto digital, pois permite que a empresa obtenha feedback rápido dos usuários e valide suas suposições sobre as necessidades do mercado. Com base nesse feedback, é possível realizar ajustes e melhorias antes de lançar o produto completo, tornando-o mais eficiente e alinhado com as demandas reais dos clientes.
Implementação ágil
Após a conclusão do MVP, a metodologia ágil é fundamental para adicionar mais recursos imaginados durante a fase de previsão do produto. O processo ágil possibilita a rápida entrega desses recursos para os clientes e a organização, por meio de ciclos de desenvolvimento curtos e iterativos.
A agilidade vai além de economizar tempo. Conforme destaca nosso Customer Engagement Leader, Thiago Lopes, “ser ágil é ter a capacidade de se adaptar. Trata-se de lidar com a incerteza e ter sucesso em um ambiente em constante mudança”.
O Programmers Agile Experience, tem um processo de desenvolvimento de produto digital que permite responder dinamicamente às novas e emergentes necessidades dos usuários. Isso oferece uma vantagem competitiva no mercado e permite construir a satisfação dos clientes e funcionários a longo prazo.
Exemplo prático
Um exemplo prático disso ocorreu com um cliente nosso, uma empresa de tecnologia de RH, que fornece sistemas digitais para gerenciamento e comunicação de funcionários em várias empresas norte-americanas.
Durante o desenvolvimento ágil, o cliente percebeu a necessidade de um recurso de alertas e notificações em sua plataforma. Além disso, esse recurso permitiria que os empregadores informassem os funcionários sobre riscos no local de trabalho (como mau tempo) ou lembrassem de eventos futuros (como feriados).
Sob a abordagem ágil, entregamos novos recursos de forma iterativa. Começando com um banco de dados completo dos funcionários de cada empresa para garantir que os alertas fossem direcionados ao público correto. Em seguida, criamos uma plataforma onde os empregadores pudessem enviar suas atualizações.
À medida que o desenvolvimento progrediu, novas necessidades emergentes surgiram, como a demanda para enviar mensagens em uma escala muito maior do que o originalmente previsto para o software. Além disso, outra necessidade era que as mensagens fossem traduzidas dinamicamente para diferentes idiomas, com base no idioma nativo do destinatário.
Graças ao desenvolvimento ágil, conseguimos priorizar essas necessidades emergentes e torná-las o foco dos sprints subsequentes. Isso permitiu que as empresas enviassem alertas para milhares de funcionários simultaneamente e em diversos idiomas.
Apesar dos benefícios, a adoção de metodologias ágeis pode ser um desafio. O “falso ágil” pode surgir quando uma organização utiliza esses métodos apenas superficialmente, sem verdadeiro comprometimento. Falta de suporte organizacional, compreensão insuficiente, adesão relutante da gerência sênior ou o desejo de cortar custos sem seguir os princípios ágeis podem causar isso.
Portanto, para garantir o sucesso da abordagem ágil, nossa metodologia Programmers Agile Experience inclui treinamento, métricas e ferramentas que asseguram o comprometimento com o desenvolvimento ágil orientado a valor. Além disso, realizamos sessões de coaching quinzenais para obter uma visão geral de como o desenvolvimento ágil tem sido eficaz. E fornecemos métricas ágeis que identificam questões críticas no início do processo.
Além disso, garantimos que a organização tenha todas as ferramentas necessárias para o desenvolvimento ágil desde o início, eliminando quaisquer limitações técnicas que possam surgir.
Pensamentos finais
O desenvolvimento de produtos digitais pode apresentar resultados significativamente diferentes com base no processo adotado. Optar por uma abordagem ágil oferece vantagens claras, permitindo que as empresas entreguem valor aos clientes. Além disso se adaptam com agilidade a necessidades emergentes. A pesquisa da Forbes destaca os benefícios de tais processos ágeis, incluindo entregas mais rápidas, maior produtividade e melhor qualidade dos produtos desenvolvidos.
Por outro lado, seguir abordagens inadequadas de desenvolvimento de produtos pode levar a hábitos destrutivos e práticas “falsamente ágeis”. Empresas presas nessa situação podem levar anos para entregar um produto que já não atende às necessidades do mercado e dos stakeholders.
Portanto, para alcançar os melhores resultados, é fundamental trabalhar ao lado de um parceiro que possa implementar processos ágeis de forma eficiente em sua empresa.
Em conclusão, a adoção de metodologias ágeis no desenvolvimento de produtos digitais é uma estratégia comprovada para obter sucesso. Por isso, ao focar na visão do produto, estabelecer um roteiro claro, desenvolver um MVP iterativo e implementar de forma ágil, as empresas podem se destacar no mercado. Podendo assim, atender às necessidades dos clientes e alcançar resultados significativos para o sucesso a longo prazo.
James Ardis é um escritor e editor da indústria de tecnologia com foco particular em modernização digital, análise de dados e desenvolvimento de produtos digitais. Ele obteve seu MFA do programa de redação da Universidade do Mississippi, financiado por John Grisham. Em seu tempo livre, James adora viajar de trem pelo país e fazer caminhadas de longa distância.